segunda-feira, 21 de junho de 2010

"15 Anos e Meio"


Quando o óbvio é bem dito
15 Anos e Meio, filme com estreia marcada para julho, se destaca menos pelo enredo do que pelas inteligentes brincadeiras audiovisuais

Philippe Le Tallec (Daniel Auteuil), famoso cientista francês, após trabalhar quinze anos nos Estados Unidos, decide voltar para a casa a pedido de sua ex-mulher, a fim de cuidar de sua filha adolescente, Églantine (Juliette Lamboley). Esse é o mote de 15 Anos e Meio, comédia com estreia marcada para o próximo mês.
A história é bastante comum, tratando de um pai que, para conseguir conviver com a turbulenta adolescência de sua filha, terá de entendê-la. Para isso, ele chega até mesmo a buscar ajuda em uma espécie de “terapia para pais”. A filha, por sua vez, enfrenta os grandes desafios de sua idade: namoros, festas, amizades e o picante blog que relata, detalhadamente, o misterioso relacionamento de Shirley, pseudônimo de uma aluna de seu colégio, com um de seus professores.
15 Anos e Meio, no entanto, se destaca menos pelas atuações e pelo enredo do que pelas pequenas brincadeiras e homenagens feitas pelos diretores, François Desagnat e Thomas Sorriaux. Uma dessas menções honrosas ocorre quando Philippe, com ciúmes de um pretendente de Églantine, imagina-se duelando com o rapaz "à moda antiga". O cenário, as roupas, as armas e a angulação da cena são uma clara referência ao antológico duelo entre as personagens Redmond Barry e Capitão Quinn, de Barry Lyndon, clássico do aclamado diretor Stanley Kubrick.
A imaginação de Phillipe, ademais, não só é responsável por algumas das cenas mais engraçadas do filme, mas também traz certa profundidade psicológica à narrativa: o cientista criou uma espécie de amigo imaginário que é ninguém menos do que Albert Einstein. As fórmulas dadas pelo pai da teoria da relatividade, embora fossem muito úteis dentro dos laboratórios, em nada ajudavam quando o problema era equacionar o relacionamento entre pai e filha. Desse modo, razão e emoção entram em conflito, mostrando que, embora Phillipe seja um cientista premiado, ele não escapa dos desentendimentos comuns aos adolescentes em seus 15 anos e meio.
Em que pesem as desavenças entre Phillipe e Églantine, os dois têm de enfrentar problemas bastante parecidos, o que acaba por aproximá-los. Ambos tentam se adequar às suas novas vidas – a filha, às hecatombes de sua adolescência e o pai, a seus novos empregos como chefe um laboratório e de uma família, em Paris.
Um dos trunfos do filme é, sem dúvidas, falar da adolescência sem ser anacrônico, isto é, com falas e situações incoerentes com tal fase da vida. Na película, são abordados temas próprios da juventude, como sexo e drogas, com uma polidez bastante adequada, sem o famigerado discurso moralista de muitos filmes juvenis.
O filme, portanto, trata do conflito de gerações sem entrar em conflito com sua própria linguagem, tanto no que diz respeito ao modo de falar das personagens, quanto no que se refere à sua estética, marcada por diálogos rápidos, digressões e situações cômicas. 15 Anos e Meio não deixa de ser uma boa pedida, uma vez que, apesar de apresentar um enredo óbvio, traz brincadeiras audiovisuais, no mínimo, inteligentes.

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