terça-feira, 20 de abril de 2010



You can't tell me to feel! The truth never set me free, so I did it myself
You can't be too careful anymore, when all that is waiting for you won't come any closer... You've got to reach out a little more... More, more, more, more!
Open your eyes like I've opened mine: it's only the real world, life you will never know. Shifting your way to throw off the pain, well, you can ignore it. But only for so long...
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Hayley has the ability of always taking the words out of my mouth. Maybe this is the reason I love her so damn much - always did, always will.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Post Scriptum

PS: "Badibi-dabada-diba, badibi da di-da-bida"
"La-ra-la-la-ra-la-ra"

... Tornam a música viva!

Guia prático de introdução ao Aquarismo

Ganhei um peixe! Sempre quis um peixe num aquário redondo e, quando ele chegou, foi instante de festa e de olhos reluzentes. Meu novo animal de estimação chama-se Queijo, é lindo, medroso, vermelho e vive num aquário com pedrinhas verdes. Melhor de tudo: foi presente do meu namorado em virtude do nosso primeiro ano de namoro. Lindo, não é? Tô conseguindo manter ele vivo há dois dias, um verdadeiro progresso diante das minhas experiências anteriores com peixes. Tenho de alimentá-lo de duas a três vezes por dia, trocar a água do aquário uma vez por semana... Tudo tranquilo, até agora. Ele, neste exato momento, me olha enquanto escrevo. E justamente aí que me pego a matutar: ele nada, nada, para e me olha quando chego perto dele. Depois, dá voltinhas dentro do aquário, se esconde dentro das águas... Encosta o ventre no cascalho verde, vai para cima, rodopia para baixo, percorre todo o perímetro do aquário e sobe até a borda para fazer bolhinhas. Dou comida, ele vem, come, tenta espiar o mundo de fora por dentro, faz cocô. Quando coloco o indicador próximo à borda d'água, ele parece fingir entender. Acho que até dá "tchauzinho", por vezes, com sua nadadeira. Mas não passa disso. Depois esquece, continua seu rodopio intermitente dentro de seus quatro litros de lar - repete tudo, sempre igual, o dia inteiro.
Penso eu: não se sentiria ele sozinho? Deve ser triste ser um peixe,vivendo só na melancólica vastidão de seu aquário. Hoje mesmo até perguntei à Helena, colega da faculdade, se ele era feliz assim. Ela afirmou que sim, "Betas são solitários mesmo". Na hora, concordei com ela e comigo mesma - o Queijo estava bem. No entanto, chego em casa e olho para ele, volta o pensamento todo, sempre igual, e pior: ora, não é porque ele é solitário que goste de viver sozinho! E se ele for um gauche, ou algo do gênero? E se ele, simplesmente, não souber conviver com outros peixes em seu pequeno oceano? E se esse for o motivo pelo qual alguns betas tentam constantemente fugir de seus aquários num impulso suicida?
Gosto muito do peixinho (não mais que de meu cachorro), mas fico triste por ele, por sua solidão tácita. Incomoda-me o olhar desprendido dele, sem se fixar em ponto algum. Dói-me seu movimento preso, nunca cansado de nadar. Vejo-me em seu cárcere-bolha, redondo em sua forma, infinito por dimensão.
O peixe mal dorme, eu acordo às 5h40. O peixe rodopia em seu aquário, eu vou para a faculdade. O peixe se esconde dentro da alga artificial, eu chego em casa na hora do almoço. O peixe brinca dentro dos limites de sua realidade, eu leio jornais e converso com meus amigos. O peixe estranha o pequeno toque do indicador dentro de seu mundo, eu vivo a procurar milagres. O peixe come duas ou três vezes por dia, eu também. Nós dois tentamos prender a respiração e chegar até a tênue borda da nossa realidade para, então, enxergar o que existe fora de nossa compreensão. Sempre assim, nós dois nos encaramos, fazendo "tudo sempre igual".

#nowplaying Tom Jobim - Água de Beber (no começo da postagem) e Chico Buarque - Cotidiano (no fim).
"Eu quis amar, mas tive medo
E quis salvar meu coração
Mas o amor sabe um segredo
O medo pode matar o meu coração

Água de beber
Água de beber, camará
Água de beber
Água de beber, camará"
(Tom)

"Todo dia eu só penso em poder parar
Meio-dia eu só penso em dizer não
Depois penso na vida prá levar
E me calo com a boca de feijão..."
(Chico)

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Revisitando o País das Maravilhas
Dirigida por Tim Burton, nova versão em 3D de “Alice no País das Maravilhas” estreia no país em 23 de abril e promete se tornar sucesso nas bilheterias nacionais.
Por Gabriela Sá Pessoa

“A lagarta e Alice olharam-se por algum tempo em silêncio. Por fim, a Lagarta tirou o narguilé da boca e dirigiu-se a Alice com uma voz lânguida e sonolenta. ‘Quem é você? ’, disse a Lagarta.” Se a pergunta tivesse sido feita ao filme Alice no País das Maravilhas, adaptação dirigida por Tim Burton da obra homônima de Lewis Carroll, a resposta possivelmente seria a seguinte: um filme que, além de contar com a mais moderna tecnologia em 3D, arrecadou mais de 300 milhões de dólares durante os primeiros 28 dias em cartaz nos EUA. Visualmente exuberante, Alice, cuja estreia no Brasil está marcada para 23 de abril, conta com uma forte expectativa dos fãs de Burton e de Carroll. Para Carolina Fiori Godoy, fã do diretor e estudante de Letras na Universidade de São Paulo, o que mais encanta na obra de Burton é “a questão da estética, especialmente por ele ligar tudo num mundo novo.”
Alice é a mais recente produção da Disney, que também já havia lançado, em 1951, uma versão em desenho animado do livro. Luciano Gomes Órfão, professor de História, é apaixonado pelos livros de Carroll e acredita que muito da história original foi perdida com a primeira adaptação da Disney. “Foi um projeto mais para ter cara de desenho animado do que ser fiel à Alice de Carroll.”
Ainda na década de 50, diversas adaptações da obra começaram a ser feitas para o cinema. “Todas iguais”, na opinião de Burton, em entrevista ao Fantástico (Rede Globo), “com a mesma história da menininha que cai na toca do coelho e vai parar no País das Maravilhas.” Para o diretor, seu longa se diferencia dos demais por mostrar a protagonista mais velha, com 19 anos, “esquecida do passado, que retorna ao maravilhoso mundo subterrâneo para ajudar os seres de lá a se livrar da Rainha Vermelha, que é malvada, e devolver o trono à Rainha Branca, do bem.”
Burton, a propósito, é um diretor pouco convencional, uma figura excêntrica no cinema contemporâneo. Em suas obras, ele utiliza o espaço cinematográfico para dar vida a criaturas fantásticas e a situações extraordinárias, explorando o universo do “bizarro”, do incomum. Alexandre Claudius Fernandes, professor de Literatura e Redação, acredita que “Tim Burton resgata elementos que eram usados pelo [escritor norte-americano] Edgar Allan Poe. Assim como Poe, Burton traz o grotesco para dentro da arte. Porém, ele consegue fazer um contraste entre o grotesco que existe no romantismo, feito por Edgar Allan Poe, junto ao expressionismo, dentro da arte e do processo fílmico. Essa fusão, no caso do diretor, é responsável por trazer o imaginário para dentro de sua arte. Podemos entendê-lo como uma espécie de ‘Neo-Lewis Carroll’ do cinema.” André Renato Silva, mantenedor de um blog sobre críticas de filmes (http://sombras-eletricas.blogspot.com) e professor de Língua Portuguesa, explica que “a estética expressionista no cinema traz, basicamente, a deformação irreal de objetos e a desproporção de volumes (muitas vezes representando alegoricamente a subjetividade atormentada de algum personagem), a atmosfera noturna e nevoenta (mais uma vez) e, além de tudo, o forte jogo de contrastes entre luz e sombra.”
Quando começou a estudar no California Institute of Arts, Tim Burton não gostava de trabalhar com animações. Hoje, ele é um dos mais aclamados diretores do cinema norte-americano, reconhecido, principalmente, por “Edward Mãos de Tesoura” e animações como “O Estranho Mundo de Jack” e “A Noiva Cadáver”, filmes que angariaram milhares de fãs de Burton ao redor do mundo (só no Brasil, a comunidade destinada ao diretor no Orkut conta com mais de 41.000 membros).
Tim Burton é uma figura de grande importância e de reconhecida criatividade na sétima arte, assim como o universo fantástico dos livros de Lewis Carroll que, desde a Inglaterra vitoriana, povoa o imaginário de gerações de leitores. Luciano Órfão ainda afirma que “Alice, enquanto retrato histórico, é extremamente rico.” Para o professor, o livro pode “ser colocado do lado de qualquer quadro impressionista, das obras de Freud ou da Teoria da Relatividade. É, sem dúvidas, um texto da sua época.”
Ainda que a protagonista, no livro, tenha sete anos, não se pode classificar a obra do escritor como estritamente infantil: Carroll era um professor de matemática apaixonado por enigmas numéricos, além de ter feito truques de mágica durante toda sua vida. Alice no País das Maravilhas é, desse modo, um labirinto de palavras, onde problemas de lógica se escondem atrás de expressões, personagens e trocadilhos dificilmente perceptíveis a leitores não-anglófonos.
Burton garante que Alice é um filme para todas as idades. Para Zaine Carvalho Câmara, professora de Língua Portuguesa, o fato de Alice ser retratada aos 19 anos no filme faz com que tanto o público jovem, quanto o infantil, se identifique com a personagem. “Seja pelos conflitos inerentes ao amadurecimento, seja pelo desejo que as crianças, hoje, têm de quererem ser adultas”, afirma a professora.
O diretor, além disso, diz não ter feito “nada mais estranho ou monstruoso do que tem na história original.” Na verdade, poucos diretores poderiam conduzir visualmente os espectadores a uma nova viagem ao maravilhoso mundo de Carroll como Tim Burton. André Renato, por sua vez, não consegue “pensar em um diretor de Hollywood mais criativo e ‘bizarro’ do que ele para encarar a tarefa - talvez Guillermo Del Toro.” Não somente por sua obra se assemelhar, de certa forma, à de Carroll (quem poderia filmar um chá de “desaniversário” melhor do que o homem responsável por explorar o universo dos mitos em “O Estranho Mundo de Jack”?), mas também por suas famosas parcerias com Johnny Depp e Helena Bonham Carter que, respectivamente, interpretam o Chapeleiro Maluco e a Rainha de Copas.
Silva ainda acredita que “Johnny Depp é um ator ‘especializado’ em personagens párias, bizarras, românticas, etc., mesmo em filmes que não são de Burton.” O ator, em seu sétimo trabalho com o diretor, é um dos grandes destaques do filme. Por se tratar de uma livre-adaptação, o Chapeleiro ganhou mais evidência na história, aumentando, assim, a responsabilidade de sua interpretação na condução da narrativa. Depp afirma, também em entrevista ao Fantástico, ter achado “o ponto ideal” em sua composição, “resultado de muito estudo e de muita pesquisa sobre o personagem.” Já Helena Bonham Carter, esposa de Burton, dá vida à Rainha Vermelha, grande vilã do filme. A construção da personagem foi resultado da fusão entre as rainhas Vermelha e de Copas, também vilãs nos livros de Carroll.
O filme promete, além das grandes interpretações e da magistral direção de Tim Burton, um espetáculo de efeitos visuais. Ele também será exibido na versão 3D em algumas salas o que, para alguns, tornará ainda mais reais as experiências dos espectadores em sua incursão no “País das Maravilhas”. Para André Renato, o 3D é “uma experiência interessante, que pode ‘dar um gás’ na nossa percepção, mas sem alterá-la na sua essência.”
De qualquer forma, em 3D ou em 2D, a expectativa para a estreia de Alice é tamanha que, em alguns cinemas, muitas sessões já estão lotadas, não só para o dia 23 de abril, mas também por até uma semana depois da data do lançamento. Só nos resta esperar mais alguns dias até podermos descer pela “toca do coelho branco” e conferir as maravilhas criadas por Burton.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Incomunicação nos tempos de Steve Jobs


Bons tempos, aqueles dos sinais de fogo. Só bastavam um pouco de madeira seca, faísca e sopro: lá se acendia a tocha que iluminaria os caminhos da comunicação. Naquela época, não precisávamos viver longe de nossos afetos, talvez bem existisse saudade no meio da verdadeira solidão.
Bons tempos. Sem emprego, pátria ou patrão. Sem as ofuscantes luzes da cidade para esconder a verdade do universo guardada dentro do lampejo de cada estrela.
Bons tempos, enterrados sob concreto arnadi e asfalto, pisados por automóveis, passeatas e tratores. É. O mundo cresceu e a saudade também. A solidão encolheu tanto que, para não sumir, fincou firme o pé em cada peito - paradoxal e irremediavelmente. Daí nos sentirmos completamente sós num edifício com duas mil outras pessas - sentimos falta de nós mesmos.
Tentamos, pois, preencher esse hiato com toda a soete de inventozinhos. Criamos necessidades. Primeiro, foi a casa para chamar de própria. Depois, as roupas para fazerem moda. Então, vieram o trabalho, a palavra, o jornal e, bem depois (e nem por isso menos frustrante), a operadora de telefone celular.
Esta última, nos oferece a vida sem fronteiras e a saudade em escala menor. Compramos chips na esperança de que bossa vida simplesmente seja mas viva, de que pulemos mais, de que nosso "eu te amo" seha ouvido de perto, feito sussuro, mesmo vindo de longe. Claro. Em vez disso, levamos tarifas impagáveis e o sinal da empresa que não funciona. Simples assim, nossa comunicação depende de outrem. E o pior: vimos isso acontecer.
No jornal, li uma notícia sobre um homem. Como tantas, uma pequena nota no canto da página, perdida no meio de tanto fato, mapa e cor. Enfim: ele era paulistano e engenheiro civil. Para completar sua vida, nada melhor que um novo celular, comprado graças às convidativas vantagens de certa operadora. Durante vinte e cinco dias, o celular do digníssimo cidadão ficou mudo, isto é, inútil. Pois de nada adiantam mil funções em um celular se ele não serve para sua função mais básica: ouvir uma voz e respondê-la.
Devido a essa falha, o engenheiro tornou-se praticamente incomunicável. Perdeu até um emprego que triplicaria seu salário. Sinais de fogo, cartas, telegramas - nada adianta se o maldito aparelhinho de algumas polegadas resolve não funcionar e se a boa vontade da operadora não colaborar.
Bandeira branca. Fomos vencidos pelo monstro da incomunicação que, disfarçado dentro dos mais diversos gadgets, nos engana, pois acreditamos que estamos com o mundo cada vez mais na palma da mão. Pobre de nós, tão bobos, jogamos fora nossa própria voz. E não há Steve Jobs, com seus aparelhos mágicos, que possa nos ajudar.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Voamos

Tarzan foi o filme favorito da minha infância.

A busca do saber
Vai mostrar a direção
Mas sempre ouvindo a voz do coração
(...)
Só você vai encontrar liberdade "prá" viver
E um dia então será
Como um grande homem deve ser.
Ed Motta - Trilha sonora de Tarzan



E não há quem não o diga: o tempo não passa, voa. Vai longe, vento dentro da nuvem, leva consigo as virtudes, a fantasia e tudo o mais que fomos.
Ontem foi a Páscoa e devo dizer: cresci. Não porque me tornei mulher-feita, racional, experiente, dona de mim. Mas porque eu estou deixando de sentir. Ainda amo, pois viva ainda estou. Tenho saudades, esperneio, me rasgo em lágrimas, sou risos e carícias mil. A situação é a seguinte: as coisas estão, simplesmente, perdendo seus significados. Sinto ser consumida pela apatia, pelo olhar morno, blasé, para a paisagem presa à inexorável realidade da janela. E não pode, não deve ser assim!
Ora, quando criança, nada mais gostoso do que esperar pelas datas comemorativas. Cronologicamente, "dia de ano", Carnaval, Páscoa, dia do índio (que nem feriado oficial é), Tiradentes, dia das mães e dos pais, Quermesse, dia da criança e, claro, aniversário e natal. Tudo preparava-se com requinte único: dobraduras, pinturas, máscaras e comidinhas - fragmentos de infância que vão embora junto com os sapatos que não servem mais. Triste. É assim que a gente morre, aos pouquinhos, com as pequenas coisas de que nos desfazemos por não nos servirem mais. No fim, nem mesmos nosso corpo servirá à nossa alma. Tornamo-nos, então, um punhado de pó, um pedaço da terra deste mundo.

Eu mal cabia em meu metro de altura e já dizia: ovos de Páscoa só podem se abrem no domingo. Tinha coisa melhor do que ver tamanho estoque de chocolates crescendo, dia a dia, em cima do armário da cozinha? Quando a gente é pequeno, tem mania de guardar o melhor sempre pro final: primeiro o arroz e o feijão, depois a mistura. Tortuguita se come metodicamente: patas, cabeça e casca; Yakult se bebe fazendo um furinho no fundo, bem devagarzinho, transformando um gole em três ou quatro. Enrolar os brigadeiros do aniversário, então, era quase um ritual, um exercício de autocontrole da gula. Já na infância, aprendemos que momentos bons são poucos (e preciosos), por isso devem ser cuidados até o fim, vividos ao máximo - até a última gota.
Deixar de se empolgar com a Páscoa é uma tragédia imensa, talvez uma das piores que possa se abater sobre um ser humano. Assim, começamos a morrer, quando abandonamos significados que cresceram conosco, quando o cheiro das comidas só nos lembra fome (e não vontade). Jogamos ao ar nossas memórias, deixamos de ser quem somos. Tropeçamos em nossas rugas, deitamos ao vento para voar sozinhos eternamente.
Sorte que ainda deve haver um certo tempo...