quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Quando eu ri (21/03/09)

"Na minha cabeça existe uma estação cinzenta, de onde mando meus pensamentos para lugares distantes... Então, eles terão uma chance de encontrar um lugar onde se encaixem melhor do que aqui." (Soul meets body)

Esses dias ouvi falar sobre a redução ao absurdo. Isso nada mais é do que incluir o vazio em tudo, pois se não há nada no vazio, dizer que ele não faz parte de alguma substância é dizer que há algo em tal matéria que ao vazio não se assemelha e, sendo o vazio a ausência de qualquer elemento, dizer que ele não está em um conjunto é dizer que existem elementos no vazio, um absurdo!

Nesse mesmo dia eu ouvi dizer que nós estamos contidos em nós mesmos. Matematicamente, fisicamente, biologicamente, academicamente plausível. E daí? Onde foi que me perdi?
Se alguém algum dia (o que sinceramente acredito que sim) já desfez-se de coisas velhas, vai entender quão estranho é, chega a ser desconfortável, entrar em contato com coisas que não mais lhe agradam. Foi o que aconteceu, também por esses dias.
Tais pertences me tomaram pela mão e me deixaram só em algum lugar impalpável, conscientemente meu e, por isso, degustável. Então, perguntei-me num canto, procurei-me em outro... nem uma sombra, um traço, um ruído sequer. Por fim, senti a minha impotência, nem ao menos pertencia à paisagem. Nesse momento meus lábios se expandiram e eu, aquém das coisas ao redor, fiz-me semente, cada vez mais vertiginosamente, rapidez que revolveu-me as vísceras - passei de luneta a microscópio.
O Kundera diz que a gente nunca vive de fato e, nesse ponto (como em muitos outros), eu tenho de concordar com ele. A gente ensaia para um momento que nunca vem, a vida passa, enredo linar de um filme, sem clímax, sem plateia, sem trilha sonora, sem estética. Ela flui, como um rio que tem origem em nossos peitos, e nos conduz a um destino duvidoso e corre sempre pela mesma paisagem, eu vou pelo mesmo caminho, sigo por uma partitura com as mesmas notas infinitamente. "Es muβ sein!" Só há vida por conta dos peixes que todos os dias nascem, reproduzem-se e morrem.
Quando voltei, vi um frasco de perfume vazio, feito de vidro verde. Sua fragrância preencheu-me os sentidos, já suave e quase imperceptível, a última tentativa dos braços do homem que se afoga de alcançar a margem do rio. Não conseguiu, ele ficou para trás, ele viveu e segue atrás de mim, não muito, depois de qualquer chuva mais forte ele talvez volte ao seu lugar na correnteza. Lugar que agora está vazio, o vazio contido no rio, que aguarda pelo único recipiente de vidro verde capaz de, absurdamente, preenchê-lo.





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Como pretendo deletar o outro blog, vou postar os textos de que mais gosto aqui.

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